O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um dos instrumentos mais importantes para retomada do crescimento do país e também para a geração de empregos, segundo o economista Thiago Mitidieri, presidente da Associação de Funcionários do BNDES (AFBNDES). Segundo ele, o banco é responsável pelos principais financiamentos em grandes obras de infraestrutura, e nenhum dos funcionários do corpo técnico esteve envolvido em denúncias de corrupção. Porém, é esse estigma que vem à tona quando governos de caráter privatista tentam atacar a credibilidade da instituição.
De 2007 a 2017, o BNDES investiu R$ 509,5 bilhões em obras de infraestrutura, 287% a mais que os R$ 131,6 bilhões que foram liberados entre 1997 e 2007.
Apesar da importância dos resultados a longo prazo, o BNDES enfrenta nos últimos anos, durante o governo Michel Temer (MDB), uma tentativa de desmonte dentro de um processo de retomada das privatizações de empresas públicas – uma política anti-nacional que é endossada pela equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
O Brasil de Fato entrevistou dois ex-presidentes da instituição sobre a função estratégica do BNDES. A gestão de Carlos Lessa durou de janeiro de 2003 a novembro de 2004. Já o economista Luciano Coutinho presidiu a instituição entre maio de 2007 e maio de 2016.
No período após o golpe contra a presidente Dilma Rousseff, o banco reduziu drasticamente os investimentos em infraestrutura. Em 2017, foram apenas R$ 70,7 bilhões (19,8% menor que os R$ 88,2 bilhões de 2016). Esta foi a menor liberação de recursos para obras de infraestrutura desde 2008. Um ano antes da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, o investimento foi de R$ 190,4 bilhões. E no ano da Copa foram mais R$ 187,8 bilhões.
“O BNDES financia todos os tipos de infraestrutura desde os grandes projetos de distribuição de energia, na geração. Os projetos de logística importantes como construção de rodovias, duplicação de rodovias, construção de portos”, disse Luciano Coutinho.
Nas cidades grandes do país, o dinheiro do BNDES é fundamental na melhoria do transporte urbano com recursos destinados aos metrôs e corredores rápidos de ônibus. Além disso, é um dos principais investidores em obras de melhoria das telecomunicações. De acordo com Coutinho, ter o financiamento aprovado pelo BNDES também é uma referência para a qualidade e consistência do projeto, pois a análise dos técnicos é sempre rigorosa.
Sobre a queda nos investimentos feitos pelo banco nos últimos anos, o economista acredita que seja uma reação natural do mercado diante da crise.
“Primeiro, o país passou por uma crise muito profunda, com uma recessão em 15, 16 e parte de 17. E o crescimento de 17 e 18 foi muito fraco. Então, o incentivo ao crescimento por parte do próprio mercado é um incentivo reduzido”, disse.
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, no começo do governo Lula, criou em 2003, uma política de reuniões semanais com a imprensa para garantir a transparência do banco de investimentos e evitar a boataria. Nesses encontros com a mídia, Lessa aproveitava para destacar as realizações do banco, mantendo em sigilo as negociações em andamento. O método foi fundamental para solidificar a confiança do mercado no BNDES.
“Os padrões de comportamento do BNDES continuam os mesmos. É uma das instituições brasileiras que têm padrões mais sólidos de atuação”, disse Lessa.
O BNDES foi criado nos anos 1950, após o final da Segunda Guerra Mundial, com o propósito de acelerar o desenvolvimento do país, planejando um crescimento ordenado em vários setores e atuando em projetos que não fazem parte das metas de investimentos dos bancos particulares.
“Se a proposta é industrialização e se o projeto é essencial para o desenvolvimento industrial, o BNDES incorpora a dimensão na aprovação de outros projetos que viabilizam a proposta”, disse Lessa.
De forma geral, segundo Lessa, o BNDES tem a função estratégica de garantir o recurso necessário para o financiamento de “pacotes” de desenvolvimentos nas mais diversas áreas.