“O Banco do futuro já é o Banco presente”

23 de maio de 2016

As mudanças geradas pelo avanço das tecnologias da informação implicam em constante transformação do trabalho bancário. A inserção do meio sindical neste debate e os desafios que se apresentam no cotidiano da categoria foram o foco do painel “O Banco do Futuro”, ocorrido na manhã desta sexta-feira, na Fetrafi-RS. O tema, abordado pela pesquisadora Ana Tercia Sanches, especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo, envolveu mais 200 delegados e delegadas sindicais, vindos de todo o Estado para o Seminário Estadual promovido pela Fetrafi-RS e SindBancários.

Após a abertura do evento, que contou com a participação dos diretores da Fetrafi-RS, Carlos Augusto, Rocha, Denise Corrêa, Maristela Rocha e Sérgio Hoff, além do diretor do SindBancários, Paulo Roberto Stekel, Ana Tercia falou sobre inovações tecnológicas, processos de trabalho e sociedade. Segundo a palestrante o banco do futuro, na verdade, já é o banco do presente com o advento das novas tecnologias de informação, que viabilizam a automação dos processos bancários em tempo real, reduzindo as rotinas de trabalho e direcionando os clientes e usuários do sistema financeiro para formas de atendimento não presencial.

Automatização dos processos

“Hoje um caixa eletrônico pode realizar até 400 operações diferentes. Também há o avanço da utilização de celulares e tablets, que já são responsáveis por grande parte das transações financeiras, pagamentos e transferências. Com o crescente uso de novas tecnologias, o setor financeiro acaba influenciando a sociedade como um todo. Vamos ter que tomar uma decisão diante disso tudo, que é interagir com os novos tempos a partir de uma leitura crítica das novas tecnologias”, explica Ana Tercia.

De acordo com a pesquisadora, o capitalismo financeirizado busca competitividade e produtividade em curto prazo. “Estamos diante de um sistema internacionalmente integrado pela interação tecnológica e as tecnologias da informação são centrais para entender o conjunto de mudanças que afetam a vida dos bancários. Embora os bancos tenham sistemas que funcionem 24h, sete dias por semana, ainda existe trabalho humano por trás. Com isso, nós vivemos um processo constante de reestruturação produtiva”, avalia.

Operações em tempo real

Para Ana Tercia o uso da plataforma Internet marcou a evolução tecnológica dos processos bancários, através da disponibilização de sistemas de processamento em tempo real. “Atualmente, de acordo com dados oficiais fornecidos pelo Banco do Brasil, 95% das operações da instituição são feitas por canais automáticos. No caso do Bradesco, usando um exemplo de banco privado, 73% das operações são realizadas via smartphone. Por outro lado, o custo da transação bancária também desestimula o atendimento presencial e a interação humana nas operações”, informa Ana Tercia.

Entre as principais inovações constantes apontadas pela pesquisadora, com vantagens de acessibilidade e mobilidade, estão novas máquinas de cartões “Smart POS”; a realização de pagamentos por meio da aproximação do celular através de terminais; o fim do dinheiro em espécie e a substituição das senhas por biometria.

Interação necessária

Para Ana Tercia, o maior desafio dos bancários será a interação com o novo modelo de atendimento oferecido pelos bancos através das agências digitais. “O Banco do Brasil já contabiliza 110 escritórios virtuais para atendimento de clientes Estilo. Já o Itaú, possui 108 agências digitais”. Segundo a pesquisadora, um dos principais temas polêmicos relacionados ao atendimento nessas unidades virtuais é o horário de atendimento estendido. “O movimento sindical terá um papel central na tentativa de estabelecer regras para a carga de trabalho nestes locais”, afirma.

Conforme a painelista, a redução constante da interação humana nos serviços bancários, com a eliminação de etapas de trabalho é crescente e vai continuar com a automatização dos processos. “Isto gera alterações nas ocupações dos bancários, no perfil exigido para o trabalho em uma nova configuração de atendimento”, analisa Ana Tercia.

Para a pesquisadora, os bancários estarão sujeitos a novas formas de trabalho, à ampliação nos horários de atendimento, mudanças no conteúdo do trabalho e necessidade de requalificação, além da redução considerável do número de agências. “De acordo com informações fornecidas por um executivo do Itaú, o banco poderá reduzir sua rede de agências em 50% num período de 10 anos”.

Desafios à ação sindical

Ana Tercia destaca que o movimento sindical, além de acompanhar de perto todas as mudanças geradas pelas novas tecnologias, terá que enfrentar os novos obstáculos a sua atuação em busca de efetividade na defesa dos direitos dos trabalhadores. “Um dos grandes desafios à ação sindical é dificuldade de fazer greve devido ao grande nível de automação”, avalia.

FONTE: Comunicação/Fetrafi-RS

FOTO: reprodução / Fetrafi-RS

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