Escritora Mazé Torquato Chotil esteve em Novo Hamburgo lançando “Trabalhadores Exilados: A saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)”.
Felipe de Oliveira Bancários de NH e Região
A história de políticos, estudantes, intelectuais e artistas obrigados a deixar o Brasil nos anos nefastos de ditadura militar todo mundo sabe; pelo menos já ouviu falar de um ou outro caso. É sobre trabalhadores do chamado “chão de fábrica”, sindicalistas e estudantes anônimos, sobretudo, que a escritora Mazé Torquato Chotil decidiu pesquisar. E o resultado do seu pós-doutorado teve lançamento nesta segunda-feira, dia 17, em Novo Hamburgo: Trabalhadores Exilados: A saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985) (Prismas, 2016).
O evento foi promovido pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de Novo Hamburgo e Região, com apoio do escritor hamburguense Henrique Schneider, e contou com a presença do vereador Ênio Brizola e do deputado estadual Tarcísio Zimmermann, ambos do PT. Antes que a autora falasse da obra, seu companheiro, Bernard Chotil, que conheceu na França, onde vive, animou o público com suas canções – o francês é músico e poeta.
Segundo Joey de Farias, diretor do Sindicato, a atividade é parte de uma política mantida pela entidade. “Procuramos alternativas de formação e conscientização dos trabalhadores para além da categoria dos bancários”, explica o sindicalista, lembrando de evento que debateu o Golpe de 64, com o escritor e jornalista Juremir Machado da Silva, no primeiro semestre. “Os desafios que o Brasil enfrentou, historicamente, mas especialmente os que enfrenta neste momento de crise, são comuns.”
Memória pouco presente
Para Henrique Schneider, além da qualidade do texto e da precisão da obra, o grande mérito de Mazé Chotil é recuperar uma memória que permaneceu por muitos anos à margem dos debates públicos no Brasil – numa opinião que dialoga com a ideia de “memória subterrânea”, de Michael Pollak. “É preciso que debatamos em exaustão as consequências da ditadura para que não se esqueça; para que nunca mais aconteça”, defende o escritor.
Mazé catalogou 127 casos de exílio, em diferentes países, e realizou 43 entrevistas. “São brasileiros que foram forçados a partir sem dinheiro para se sustentar, que não falavam outras línguas além do português”, revela a autora. A saga desses trabalhadores é narrada em 346 páginas e o livro está a venda em livrarias e também online, ao custo de R$ 64,00.
Sinopse
Este livro instigante busca recuperar a memória e a história do exílio de brasileiros durante a ditadura militar, ressaltando as novas socializações que proporcionou, a despeito das circunstâncias difíceis da partida forçada. Mais importante: a ênfase está em operários, pouco destacados pela literatura. Resulta de pesquisa de fôlego, com várias entrevistas e uso de ampla bibliografia e documentação.
A autora apresenta dados estatísticos sobre a composição social dos exilados: sexo, idade, origem social, ocupação, escolaridade, formação, locais de origem, tipos de militância, entre outros aspectos. Reconstitui ainda os eixos de migração e acolhimento: Chile, Argentina, Cuba, Europa Oriental, Europa Ocidental (especialmente França, Suécia e Portugal). Apesar das dificuldades, os exilados oriundos das classes populares recordam das oportunidades de crescimento pessoal e coletivo no exterior, do contato com outras culturas e experiências políticas, das oportunidades de estudo e aperfeiçoamento profissional, das ligações com grupos e redes de sociabilidade, aspectos que facilitaram a reinserção na sociedade brasileira após a anistia.
Escrito com clareza, o livro favorece a leitura do público em geral, mas sem perder o rigor acadêmico que o torna indispensável aos estudiosos da ditadura, do exílio e de um paradoxo latente na obra: houve relativo êxito pessoal e profissional dos militantes exilados, a despeito da derrota dos projetos políticos originais que os forçaram ao exílio.
Marcelo Ridenti
FOTO: divulgação