Uma aula de história, geopolítica e globalização. Com esses temas, o desembargador do TRT4 Marcelo D’Ambroso utilizou a história da formação das sociedades modernas para provar que Reforma da Previdência é só mais uma das inúmeras tentativas do neoliberalismo de controlar os trabalhadores, especialmente os mais humildes. A aula pública, que aconteceu no plenário da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, ficou lotada.
O evento, realizado pela Comissão Especial em Defesa da Previdência Social da Câmara e Comitê Municipal em Defesa da Previdência Social, contou com apoio de diversos sindicatos de Novo Hamburgo. Representando o Sindicato dos Bancários, Everson Gross fez parte da mesa diretiva, que contou ainda com representantes do SindProf, Sindicato dos Sapateiros e Sapateiras e Sindicato dos Comerciários.
Na sua fala, o desembargador Marcelo D’Ambroso, mestre em Direito Penal Econômico (Universidad Internacional de La Rioja/Espanha) e doutorando em Ciências Jurícas (Universidad del Museo Social Argentino/Buernos Aires),especialização em Direitos Humanos (Universidad Pablo de Olavide/Espanha), Relações Laborais (Univerdidade de Bolonha e Universidade Castilla-La Mancha) e Jurisição Social (Consejo General del Poder Judicial da Espanha), se utilizou da história para resgatar toda trajetória dos países desenvolvidos e sub-desenvolvidos, como o Brasil, demonstrando a necessidade de manter os países periféricos sempre sob controle social.
D’Ambroso abordou a influência dos neoliberais nas ditaduras patrocinadas pelos Estados Unidos na América Latina, abordando especificamente o modelo chileno, que serviu de base para a Reforma da Previdência apresentada no Brasil. Atualmente, no Chile, 80% das aposentadorias são menores do que um salário mínimo, o que aumentou significativamente o número de suicídios entre os idosos, que sequer tem como se manter.
Em sua fala, o desembargador criticou fortemente a mídia, afirmando que ela é responsável por gerar as crises econômicas. “Em 2009 todo o mundo estava em crise, menos o Brasil. Essa crise só nos atingiu em 2015. Isto está correto? Foi resquício da crise de 2009? Não. Foi a mídia alardeando uma crise inexistente, freando investimentos e contratações, gerando demissões e, consequentemente, desaquecendo a economia e gerando a crise de verdade. Se eu pudesse dar um conselho a cada um presente nessa aula é: não assistam mais TV”, pontuou Marcelo.
Em sua conclusão, o professor afirma que não é possível sequer discutir a Reforma da Previdência proposta. “Se falarmos que podemos discutir alguns pontos, apresentar propostas para melhorar esta reforma, estamos a admitindo. Não temos que discutir nenhuma nuance da Reforma. Temos que dizer não a ela. Precisamos refutar tudo aquilo que não nos serve”, afirmou. Após a fala principal, foi aberto espaço para falas do público presente.
Para Everson Gross, dirigente do SindiBancários, a abordagem geopolítica e histórica de D’Ambroso é uma oportunidade de reflexão sobre a Previdência sob um outro ângulo. “Além das mudanças propostas em si, conseguimos compreender a motivação obscura por trás da proposta. Isso mostra que o projeto da Reforma vai além das mudanças em si, mas é mais uma forma de controle da população pobre. Nesta disputa do orçamento público, os bancos estão de olho nesta fatia que representa 20% dos gastos do governo. O interesse deles é privatizar e colocar as mãos na Previdência de todos trabalhadores brasileiros”, salientou Gross.
Texto: Kauê Mallmann
Foto 1: Jaime Freita/CMNH