Fonte: Sul 21 – Juberlei Bacelo*
Durante a pior recessão da história do País, o lucro dos bancos não para de crescer. Após terem chegado a inacreditáveis R$ 98,5 bilhões em 2018, o primeiro trimestre de 2019 voltou a sorrir para os banqueiros. Apenas os quatro maiores bancos registraram uma alta de 22% no primeiro trimestre, chegando R$ 20 bilhões de lucro consolidado nos três primeiros meses do ano.
Como é possível que resultados tão espetaculares sejam obtidos em um momento em que 15 milhões de brasileiros estão desempregados e a economia não dá nenhuma mostra de reação?
Este é o paradoxo que terá de ser resolvido, se quisermos pensar no futuro da economia brasileira, seu povo e até sua democracia.Os bancos usualmente escondem suas tarifas atrás de cálculos mensais, omitindo o efeito de juros compostos.
A tarifa média praticada neste ano, para pessoas físicas, foi de 118%. Ou seja, um trabalhador que comprou uma geladeira a crédito pagará duas ao final de doze meses. Para se ter uma ideia, a mesma taxa, na França, é de 3,5% ao ano. Se tomarmos o crédito rotativo (cheque especial e cartão de crédito) esta taxa chega facilmente a 300%, um juro de agiota, sem dúvida nenhuma. Este não é um problema pequeno.
Neste momento, 64 milhões de famílias são devedoras e têm sua renda drenada do consumo para o pagamento a bancos. Não é de estranhar que a economia não ande.
Para as empresas, não é muito diferente. As taxas de juros anuais alcançam 52%. Basta perguntar qual investimento, hoje, rende acima deste percentual, para entender porque a taxa de investimento é a menor em décadas.
Por fim, também o governo tem seus recursos drenados para o sistema financeiro. Em 2018, foram nada menos de R$ 310 bilhões (10 vezes o Bolsa família) ou 6,5% do PIB. Somados com os 16% do PIB pagos pelas empresas e famílias, significa dizer que quase um quarto de tudo o que o País produz em produtos e serviços, no período de um ano, é esterilizado na renda do sistema financeiro.
Mas para onde vai este dinheiro? Parte relevante vai para aplicações em títulos do governo, investimento sem risco, que drena o dinheiro dos impostos, parte vai para a agiotagem descrita e uma parte relevantíssima é destinada aos chamados paraísos fiscais. Estudos internacionais recentes revelam que R$ 2 trilhões de origem brasileira estão em paraísos fiscais, cerca de 30% do nosso PIB, ou seja, não são investidos e nem tributados.
Mesmo na distribuição de lucro a máquina de desigualdade não para. Os clãs Setúbal, Villela e Moreira Sales, controladores do Itaú, receberam 9,1 bilhões de reais em dividendos. Sabe quanto pagaram de impostos sobre esta bolada? Nada. Nenhum centavo, pois o Brasil é um dos poucos países do mundo a não cobrar nenhum imposto sobre os lucros. Não é possível que um modelo em que o bancário paga mais imposto que o banqueiro funcione.
Ok, você pode achar que tudo isto é muito injusto, mas que não seria a função de um dirigente sindical bancário denunciar o lucro dos bancos, porque se o setor cresce, o bancário também ganha, certo? Errado. Quanto mais poder e dinheiro acumulam os banco pior fica a situação laboral dos bancários.
Os bancos têm reduzido, sistematicamente, o número de bancários, prejudicando o atendimento à população, aumentado o número de terceirizados (com salários menores e empregos vulneráveis), tornando insuportável a pressão por metas, que exigem a venda de produtos que os clientes não querem e não precisam. Tudo isto resulta em um trabalhador pior remunerado, fragilizado em suas garantias e adoecidos pelas condições opressivas de trabalho.
Se não queremos, como temos hoje, seis famílias com riqueza maior que a metade da população brasileira, uma estagnação da economia que dizima os empregos e salários e um estado que já não provê os serviços mais básicos, muita coisa deve ser feita, mas a primeira e mais importante é colocar o sistema financeiro a serviço da sociedade e não o contrário.
*Juberlei Bacelo é diretor da Fetrafi-RS