Na tentativa de comprar votos, Bolsonaro provocou calote bilionário na Caixa

29 de maio de 2023

Fonte: UOL

No início de 2022, Jair Bolsonaro viu ruir sua primeira cartada na busca pelos votos das pessoas mais pobres. A criação do Auxílio Brasil não havia gerado o efeito esperado nas pesquisas. O então presidente decidiu dobrar a aposta. Para isso, recrutou um aliado: a Caixa Econômica Federal.

Por medida provisória, foram criadas duas linhas de crédito na Caixa para essa fatia do eleitorado. Até a eleição, o banco estatal liberou R$ 10,6 bilhões para 6,8 milhões de pessoas.

Bolsonaro não se reelegeu, e a política de torneira aberta deixou para trás um calote bilionário nas contas do banco, que só agora começa a ser conhecido.

A reportagem do portal UOL teve acesso a informações que eram mantidas pela Caixa em segredo. E explica nesta reportagem como um banco estatal de 162 anos foi usado como arma da campanha de Bolsonaro, se valendo de manobras inéditas, sem transparência, que expuseram a instituição a um nível de risco inédito na história recente.

O que aconteceu

Em 17 de março de 2022, Bolsonaro e o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, assinaram duas medidas provisórias: A primeira criava uma linha de microcrédito para pessoas com nome sujo. Até as eleições, a Caixa emprestou R$ 3 bilhões no programa, chamado de SIM Digital. Mas muito pouco desse dinheiro retornou. A inadimplência chegou a 80% neste ano, segundo a atual presidente do banco. Parte do rombo deve ser coberto com verbas do FGTS.

A outra liberava empréstimos consignados ao Auxílio Brasil. Entre o primeiro e o segundo turno das eleições, a Caixa liberou R$ 7,6 bilhões. O programa é criticado por reduzir o valor do benefício social para pagar o empréstimo. Mais de 100 mil devedores foram excluídos do Bolsa Família este ano e o pagamento das parcelas do crédito é incerto.

A aventura eleitoral também custou a queima de reservas da Caixa. No último trimestre de 2022, o índice de liquidez de curto prazo — um indicador de risco — chegou ao menor nível já registrado pelo banco.

Primeira etapa: a linha para negativados

No evento de lançamento das duas novas linhas de crédito, em março de 2022, Bolsonaro e Pedro Guimarães se deixaram filmar descontraídos juntos. Mas, por trás das aparências, uma preocupação martelava entre a cúpula do governo. Um dia antes, pesquisa Quaest havia mostrado que Bolsonaro tinha meros 19% de intenção de voto entre o eleitorado de baixa renda. Lula, 54%.

A nova cartada de Bolsonaro dependia agora de Pedro Guimarães e de uma abertura generosa dos cofres da estatal. A primeira nova linha de crédito foi o SIM Digital, programa de microcrédito que emprestava de R$ 300 a R$ 1.000, inclusive a quem tinha até R$ 3.000 de dívidas. Para pedir e receber o dinheiro, bastavam alguns cliques no celular.

A medida provisória definia que qualquer banco podia participar, mas a Caixa foi a única a assumir o risco. “É a primeira vez que na história do Brasil existe uma operação dessa, com foco nas pessoas negativadas”, disse, na época, Pedro Guimarães.

Foi um estouro de procura. No fim de março, logo que o SIM Digital foi lançado, o Google viu uma onda de buscas pelo empréstimo. Chegou a ser a quinta principal busca do ano na categoria “como fazer”. Em um único dia, mais de 50 mil contratos foram assinados, o maior número já visto pela Caixa até aquele momento.

No primeiro mês, o banco estatal emprestou R$ 1,3 bilhão. O dado é do Ministério do Trabalho e Emprego, que tem a atribuição de acompanhar o desempenho da linha de crédito. A Caixa se recusou a fornecer informações. Cinco de cada seis pessoas que pegaram o crédito tinham o nome sujo. Apesar do alto perfil de risco, as taxas de juros começavam em 1,95% ao mês.

“Essa taxa de 1,95% ao mês no crédito pessoal dificilmente você vai ter [em outro banco]. Chega a ser menor até do que [juros de] consignado”, disse Guimarães no anúncio do programa. Até 40 milhões de pessoas poderiam ser beneficiadas antes das eleições. “Poderemos ter até R$ 10 bilhões no total da operação em 6 meses”.

Confira a reportagem completo na página do UOl: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/05/29/a-caixa-preta-da-caixa.htm

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