Uma recente pesquisa mostrou que os bancários e bancárias estão entre as categorias mais adoecidas do Brasil, seja física ou psicologicamente. Realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB), a pesquisa ouviu 5.803 bancários e bancárias de todo o país em 2023.
Os dados foram divulgados este ano e assustam: 80% das trabalhadoras e dos trabalhadores do ramo financeiro declararam ter tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano, e quase a metade está em acompanhamento psiquiátrico. Desse grupo, 91,5% estão utilizando medicações prescritas pelo psiquiatra, um percentual que cai para 64,4% entre os que estão sob acompanhamento médico de outras doenças.
Pensando neste panorama que afeta gravemente os trabalhadores e trabalhadoras, o Sindicato firmou uma nova parceria com uma clínica psicológica com valores acessíveis para o atendimento terapêutico da categoria e familiares.
Dr. Pedro Roque Giehl é psicólogo (CRPRS 07/42068), filósofo e administrador. Tem especialização em Terapia Cognitiva-Comportamental, Neuropsicologia e ABA para Autismo e Deficiência Intelectual e Cooperativismo. É mestre (UFRGS) e doutor (UNISINOS) em Administração. Foi professor de instituições de ensino superior, como a UCS e a UNIJUÍ e, atualmente, é professor e pesquisador da Fundação Liberato. Sua clínica fica em Novo Hamburgo.
Por que se adoece no trabalho?
Por Dr. Pedro Giehl
Nossa vida não é só feita de felicidade, sucesso e bem-estar. Todos passamos por dificuldades, angústias e momentos de dor. Saber lidar e dosar os pensamentos, as emoções e os sentimentos em cada realidade é sinal de saúde e maturidade psíquica e comportamental. Mas nem sempre é fácil e nem sempre é possível. Há momentos desafiadores, em que precisamos da ajuda de profissionais da Psicologia e/ou da Psiquiatria para lidar com as realidades, principalmente quando se trata de síndromes e transtornos. Estes tendem a ter origem na conjugação de fatores de herança genética e desencadeamento por fatores ambientais e relacionais continuamente desafiadores.
Neste sentido, o trabalho nos bancos tem se tornado um dos mais desafiadores para a saúde metal. As pessoas são continuamente submetidas a metas inalcançáveis, criando um ambiente de intensa competição e uma sensação de que, por mais que se faça e por melhor que se seja, nunca é suficiente. Isto, associado a uma gestão relacional baseada em promessas por um lado e de ameaças pelo outro. Ou seja: o incentivo à ambição para obter maior remuneração e o medo da demissão para quem não conseguir.
A conjugação da ambição com o medo gera a insegurança e a ansiedade, o que pode levar à exaustão física e psíquica no trabalho (Síndrome de Burnout). A Ansiedade de Performance no Trabalho tem sido vivida por milhares de bancários(as), cuja intensidade pode desencadear transtornos incapacitantes, como a ansiedade generalizada, a depressão, o pânico e outras.
Nem sempre é fácil saber quando se está adoecendo, porque as pessoas desconhecem seus jeitos de ser e sentir. Mas é importante buscar ajuda quando o mal-estar ainda não desencadeou um transtorno. Neste sentido, quando se percebe que o humor está frequentemente alterado ou quando as emoções, sentimentos e cognições são exageradas em relação aos acontecimentos e realidades, indicam graus de descontrole e disfuncionalidade psíquica.
A psicoterapia pode ajudar muito, principalmente nos estágios iniciais do adoecimento. Ela não consegue mudar os ambientes estressores, mas ajuda a neutralizar os efeitos sobre a saúde mental. O autoconhecimento e a psicoeducação ajudam a desenvolver recursos pessoais e relacionais que minimizam o impacto dos ambientes hostis, enquanto relações de trabalho mais colaborativos e saudáveis não sejam conquistados. Contudo, nos casos mais agudos do adoecimento mental, a psicoterapia precisa ser conjugada com acompanhamento psiquiátrico e uso de fármacos para maior eficácia e eficiência no tratamento.