Lucro recorde do Itaú durante a crise é anomalia do capitalismo brasileiro

5 de maio de 2018

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Apesar da profunda crise econômica que o Brasil atravessa, o Itaú anunciou esta semana um lucro líquido de R$ 6,419 bilhões apenas no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 3,9% na comparação com o mesmo período de 2017.

No ano passado, o maior banco privado do país já havia alcançado o maior lucro de uma instituição financeira na história do Brasil, chegando a R$ 24,8 bilhões. Somando os resultados de Bradesco e Santander, os três maiores bancos privados obtiveram lucro líquido de R$ 53,8 bilhões em 2017. A cifra representa um crescimento de mais de 15% em relação a 2016.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Marcio Pochmann aponta que esses resultados são uma anomalia do capitalismo brasileiro, onde os bancos não assumem riscos, não se envolvem com o desempenho da economia nacional e conseguem manter-se imunes à crise, alcançando lucros extraordinários até mesmo em quadros de recessão.

Entre as razões que explicam essa anomalia, Pochmann aponta a oligopolização e a falta de regulamentação do setor, agravadas pela atuação do Banco Central, que permite a prática de altas taxas de juros, independente de outros indicadores econômicos.

Para o economista, os bancos, na forma como atuam hoje, se transformam em obstáculo para a própria recuperação da economia.

“O Banco Central que, na realidade, se preocupa fundamentalmente com a questão monetária, a inflação, ele não considera outras características da economia, como o Banco Central americano, que se preocupa com a questão do emprego, por exemplo. Então, isso facilita muito, num setor oligopolizado que tem o Banco Central hoje operando como uma espécie de sindicato dos interesses dos bancos”, criticou.

Spread

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Os altos juros cobrados pelos bancos têm provocado fortes críticas da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que divulgou estudo, na semana passada, criticando a elevação do spread bancário –como é chamada a diferença entre a taxa de captação e a cobrada nos juros dos financiamentos.

Segundo a Fiesp, essa diferença nas operações de crédito à pessoa física com recursos livres no Brasil subiu para 54,6 pontos percentuais (p.p.) em 2017, contra 34,5 p.p. no período de 2012 a 2014.

Enquanto isso, a drástica queda da Selic no último período não se refletiu nos bancos. A taxa básica de juros da economia, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, caiu quase pela metade no passado, saindo de 13,65%, em dezembro de 2016, para 6,9% em dezembro de 2017.

Pesquisa feita pelo professor associado ao Instituto de Economia da UFRJ André Modenesi aponta que o spread bancário assumiu forte tendência à queda após 2003, partindo de um patamar em torno de 45 pontos percentuais, chegando a menos da metade (20 pontos percentuais) em 2013. A partir daí o movimento tornou-se ascendente e o spreadpraticamente dobrou já em 2016, alcançando 40 pontos percentuais.

Para Modenesi, o grande problema do setor é o alto grau de concentração, acentuado após o Plano Real. Ele aponta que entre 1995 e 2013, o processo de fusões e aquisições fez com que quase cem bancos deixassem de operar e levou os quatro maiores a deter cerca de 80% de todos os depósitos a vista da economia brasileira.

“A gente tende sempre a achar que a economia é concorrencial. Essa é uma característica da economia brasileira: a gente não tem concorrência, pouquíssimos mercados que são competitivos. E aí, os bancos têm poder. Se você controla o mercado, você cobra o preço que você quer”, concluiu.

Texto: Vinicius Mansur

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